terça-feira, 6 de março de 2012

O cliente tem sempre razão

O mundo efervesceu em maio de 68. E esse mês não foi apenas francês. Foi brasileiro com a Passeata dos Cem Mil, foi alemão com Rudi o vermelho, foi rosa com a pílula, negro com os negros. Questionava-se a herança maldita de duas guerras mundiais, duas bombas atômicas, uma super crise econômica, o fascismo, o nazismo e seus ismos. Os cabelos eram longos, as calças eram jeans, as camisas coloridas e a Guerra, mesmo Fria - ou não tão Fria, não fazia nenhum sentido. O maio passou e os anos também. Esse jovens geraram outros jovens e tornaram-se pais. Um legado educacional foi que nada pode ser imposto. A exigência da razão e da explicação são básicas. E o mundo pós-moderno com todas as suas fragmentações não nos impõe nada como outrora. Educar uma geração pautada não mais na hierarquia pura e simplesmente é instigante e desafiador. O exercício é diário. E dentro da minha perspectiva, a possibilidade dos longos cabelos e das calças jeans traz benefícios porque traz pluralidade, diversidade. Ao contrário dos positivistas, acredito que a desordem leva ao progresso. Mas quero salientar algo. Tem-se confundido a exigência da razão no processo de ensino com a exigência de um produto. O aluno e seus pais passaram a entender a escola como um produto que serve a expectativa de um cliente. Essa relação já é admitida pela psicologia a algum tempo a partir da compreensão do indivíduo como cliente e não como paciente detentor de uma patologia e tudo que isso implica. Não tenho detalhes dessa visão na psicologia, mas tornar-se cliente na relação educacional me soa nefasto. O reforço dado por escolas-empresas contribui para essa compreensão - não questiono a tentativa de uma administração profissional que se apoia em preceitos empresariais. O que me assusta é a perspectiva de que a matrícula é na verdade a compra de um pacote (o ensino) que deve ser entregue em bom estado na cabeça do cliente (aluno). Educação é construção e leva tempo. E pelo que sei da pós-modernidade, precisamos de tempo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pai e Mãe, como ser ou não ser?, eis a questão.

Na postagem "A culpa dos pais", bmello deixou um comentário se referindo a um "psicologismo barato que afirma que tudo tem que ser negociado e que o pai tem que ser antes de tudo um amigo" do filho. Na continuação, bmello coloca que pai e mãe devem antes de tudo, serem pai e mãe. Eu concordo plenamente com a afirmação, embora entenda, e creio que bmello também entende, que a relação entre pais e filhos deve ser a mais amistosa e amável possível. E o que me espanta, é por que e quando os pais resolveram abdicar da hierarquia. Espero não incorrer igualmente em psicologismo barato, mas creio ser um dado -nem digo natural - que o provedor exerça posição de poder. No entanto, parece que garantir a sobrevivência de alguém desde a tenra idade não é mais suficiente. E acho também que a idade com que se tem filhos, cada vez mais tarde, tem alterado a relação pais e filhos. Pais-avós, pais-rotina-de-trabalho, pais-maturidade-profissional... pode ser que tudo isso influencie. A minha convicção é que houve uma mudança no padrão familiar e isso alterou a dinâmica da família e, portanto, de quando ter filhos e como criá-los. Não tenho idade para saudosismos (28 anos), mas o que tenho visto não me parece bom.

Obs: como os padrões de velocidade são estúpidos hoje, o efêmero é a regra, pode ser que 28 anos seja sim uma idade para saudosismos.