
O episódio é o seguinte. Os alunos do terceiro ano do Ensino Médio realizavam um trote ao longo do ano em toda última sexta-feira do mês. Era estabelecido um tema e os alunos deveriam ir caracterizados de acordo com o tema (caipira, astro do rock, esportista etc). Dentre as possibilidades, duas foram impedidas pela direção, ir com roupa de dormir e troca de sexo. Pois bem, na última sexta do ano, os alunos do terceiro foram justamente com roupa de dormir e o sexo trocado. Foi acrescentado ainda mais uma ousadia, eles invadiram a piscina do colégio e, na catarse de fim de ano, pularam todos (ou praticamente todos). Resultado: os pais foram informados, os alunos foram enviados para casa e lhes foi zerada uma pontuação atribuída pela coordenação e que compõe a nota bimestral. Eis então que um dos alunos do terceiro ano que achou injusta a perda do ponto (ele ficaria de recuperação sem esse ponto) foi ao colégio fazer uma reclamação. Sua mãe foi junto. O diretor os recebeu e expôs a situação e justificou a medida tomada. A mãe ouviu o diretor e disse estar ciente da situação. Por fim, ela completou: "Eu concordo com vocês diretor, mas sabe como é, ele nunca me pede nada. Então quando ele pede alguma coisa, a gente tem que apoiar". Mesmo concordando com a atitude da escola, a mãe desse aluno o acompanhou para fazer a reclamação e tudo isso, creio eu, por culpa. E essa é uma impressão de diversos pais. Eles são coniventes com algumas atitudes de seus filhos porque sentem culpa de não participar da vida deles o tanto que gostariam. Não se acham, portanto, em posição de exigir determinadas posturas dos filhos, de lhes impor regras e realizar cobranças. A dinâmica familiar é outra. Pais e mães trabalham fora. Muitos se separam. O tempo em contato com os filhos pode de fato estar menor. Mas não se pode acovardar frente a essa nova dinâmica. A culpa não pode ser o principal sentimento na criação de alguém.